Graça era uma moça sobremodo bondosa, a perfeita antítese de Vingança Rancorosa, uma vizinha que outrora era chamada Justiça. Graça não se permitia jamais julgar alguém. Sempre tratava os outros com a bondade que lhe era intrínseca, relevando e desconsiderando todas as ofensas que recebia. Esforçava-se por enxergar sempre o melhor das pessoas. Isto porém, que lhe era sua coroa, revelou-se ser uma coroa de espinhos, posto que na sua ânsia por jamais magoar ninguém, e por não se permitir jamais proferir nenhum juízo, via-se obrigada a calar-se diante das injustiças que via, e sofria com isso.
Verdade era sincera e honesta. Uma moça sem "papas na língua". Em sua sinceridade, era inabalavelmente confiável para seus amigos mais próximos, pois estes sabiam que ela nunca mentia, e nunca agia desonestamente para com ninguém. Contudo, sua sinceridade veio a tornar-se enfado. O tato para lidar com as pessoas não era seu forte, pois não dava-se a oportunidade de discernir a hora e o jeito de falar, o que a levava muitas vezes a despertar ora a ira dos mais orgulhosos, ora a a mágoa dos mais sensíveis. Expunha deliberadamente as falhas de caráter das pessoas quando as detectava. Descobriu-se impenetrável nas mentes e corações das pessoas a quem desejava abrir os olhos. Por fim, em sua honestidade, foi obrigada a reconhecer que estava sendo nula em seus propósitos.
Graça conheceu Verdade. Um encontro daqueles que faz questionar como puderam antes viver separadas... De fato, vieram a descobrir que nasceram juntas, e que existem para andar juntas. Enquanto vagueassem sozinhas, jamais viveriam em real conformidade com o que são.
E a loucura chamada Graça corrigiu a insanidade chamada Verdade.